Somente agora, após terminado o primeiro treino de qualificação do ano, é possível analisar a relação de forças para essa temporada que se inicia, bem porque é a primeira oportunidade em que as equipes são forçadas a lançar mão de todas as suas armas, sem aquela história de "esconder o jogo" para não despertar demais a atenção dos rivais.
Sob esse aspecto, é a McLaren que começa 2012 "com o pé direito", conquistando a toda a primeira fila em uma dobradinha que o time de Woking não repetia há quase três anos, já que a última se deu no GP da Europa, em Valência, em 2009, chamando para si o favoritismo que cabia à Red Bull, pelo menos até o início da chamada temporada europeia.
Coube a Lewis Hamilton, que no ano passado não permitiu os 100% da Red Bull em qualificações, a honra de ficar com a pole position na prova de abertura do campeonato ao cronometrar uma volta excepcional ainda na primeira tentativa durante o Q3, sendo o único a ficar na casa de 1min24s.
A Red Bull, aliás, parece ter sentido demais a proibição do difusor soprado e mesmo a modificação nos sidepods do carro ao apagar das luzes da pré-temporada não foi capaz de dar ao time em Albert Park a mesma competitividade dos últimos dois anos, já que é a primeira vez, desde o GP da Itália de 2010, que nenhum dos carros da equipe de Dieter Mateschitz figura na primeira fila do grid, sem contar que esse resultado é pior da escuderia em treinos de qualificação desde o GP da Bélgica de 2009.
Depois da glória de dois títulos consecutivos, um dos quais conquistado de forma arrasadora, Sebastian Vettel terá a oportunidade de mostrar que também sabe se virar quando não possui em suas mãos o volante do carro mais equilibrado entre todos.
Dos times considerados de ponta, sem dúvida alguma a situação mais desesperadora é aquela vivida pela Ferrari. Depois de uma reformulação técnica com a demissão de Aldo Costa e a contratação de Pat Fry, esperava-se que o F2012 recolocasse a escuderia italiana de volta à briga pelo título, mas esse modelo revelou-se um verdadeiro fiasco, pois conseguiu ser ainda pior do que o F2009.
Fernando Alonso era o único dos pilotos da Ferrari capaz de levar o time ao Q3, mas rodou ainda no Q2 depois de frear para a Jones com uma das rodas na grama, mesmo erro cometido por Felipe Massa no primeiro treino livre da sexta-feira, e foi parar na brita. O brasileiro, aliás, sempre mais lento que o espanhol, nunca mostrou capacidade de levar o carro à última parte do treino e por muito pouco escapou do vexame de ser eliminado ainda na Q1 junto com os carros da Caterham, Marussia e HRT.
Pat Fry, já na última rodada dos treinos de inverno, dava mostras que a situação não era boa, dizendo para a imprensa à época que a Ferrari não teria condições de lutar pelo pódio em Melbourne. Muitos acharam que se tratava de uma declaração pessimista, quando na verdade foi até otimista, já que há riscos de nenhum dos seus pilotos chegarem ao final na zona de pontuação.
Resta saber apenas sobre quem recairá a ira de Luca di Montezemolo, pois certamente não tardaremos ver "cabeças rolando" em Maranello.
Já a equipe Lotus, ex-Renault, que surpreendeu nos testes de inverno, viveu no sábado momentos antagônicos.
A estrela do time, Kimi Räikkönen, que sofre com o sistema de direção do E20, foi eliminado na Q1 pelo simples fato de ter subestimado os rivais, pois preferiu ir à pista para uma última tentativa com os pneus prime quando a maioria daqueles perto da zona de degola já estava calçada com o composto mais macio.
Por outro lado, Romain Grosjean, que quase teve sua carreira atirada pela janela quando foi obrigado, na mesma equipe Renault, a substituir Nelson Piquet em 2009, deu a volta por cima e, para o espanto de todos, colocou seu carro na terceira posição do grid de largada, mostrando todo o potencial do jovem franco-suíço e do E20.
Da Mercedes esperava-se mais, principalmente após toda a polêmica causada pelo seu duto na asa traseira que simula os efeitos do duto frontal, banido no fim de 2010, que muitos creem tratar-se apenas de uma distração àquilo que realmente interessa. A evolução do time, no entanto, é evidente e certamente dará trabalho a todos que pretendem fazer parte da disputa pelo título, mas a expectativa era de que o time de Ross Brawn e Norbert Haug estivesse disputando, de forma um pouco mais direta, a pole position com a McLaren.
A Sauber foi outro time que não demonstrou em Melbourne o que se viu nos testes de pré-temporada. Para Sérgio Pérez o desapontamento foi ainda maior, pois sequer conseguiu ir à pista no Q2 em razão de problemas no câmbio e ainda perderá cinco posições no grid de largada porque seus mecânicos foram obrigados a substituir a caixa de mudanças.
Entre os demais, grande resultado de Nico Hülkenberg, que conseguiu chegar à Q3 com a Force India depois de passar todo o ano de 2011 como piloto de testes.
De se destacar, ainda, o andamento da Toro Rosso, que ficou muito próxima de colocar ambos os seus pilotos na última parte do treino, já que na primeira qualificação da carreira de Jean-Éric Vergne na Fórmula 1 acabou nocauteado na Q2 por apenas alguns décimos, cabendo a Daniel Ricciardo, que pela primeira vez corre "em casa", a oportunidade de seguir à Q3, ficando com o melhor resultado de um carro equipado com um motor Ferrari.
Com um decepcionante 14º tempo, Bruno Senna começa o ano levando quase meio segundo de seu colega de time da Williams, o mediano Pastor Maldonado. O desempenho do venezuelano, aliás, dá esperanças a todos em Grove de um carro com um potencial um pouco mais elevado em relação ao seu modelo antecessor.
No fundo do grid continuam as equipes consideradas pequenas, a Caterham (antiga Lotus), Marussia (antiga Virgin) e HRT, e é incrível que, na terceira temporada desses times, não se vê qualquer evolução, já que continuam no mesmo patamar em relação às demais escuderias, ou seja, pelo menos de um a dois segundos mais lentos em relação ao piloto que termina com o 18º tempo no treino de qualificação.
A HRT, aliás, repete o vexame do último GP da Austrália. Novamente seus dois pilotos não conseguem alcançar o "tempo de corte" (regra dos 107%) e terminam o sábado como não qualificados, pois é certo que não serão autorizados pelos comissários a correr no domingo sob a hipótese de "condições especiais" do regulamento.
Esse foi o resultado do treino de qualificação:
Piloto (País) | Equipe/Motor | Q1 | Q2 | Q3 | |
1º | Lewis Hamilton (GBR) | McLaren/Mercedes-Benz | 1min26s800 | 1min25s626 | 1min24s922 |
2º | Jenson Button (GBR) | McLaren/Mercedes-Benz | 1min26s832 | 1min25s663 | 1min25s074 |
3º | Romain Grosjean (FRA) | Lotus/Renault | 1min26s498 | 1min25s845 | 1min25s302 |
4º | Michael Schumacher (ALE) | Mercedes | 1min26s586 | 1min25s571 | 1min25s336 |
5º | Mark Webber (AUS) | Red Bull/Renault | 1min27s117 | 1min26s297 | 1min25s651 |
6º | Sebastian Vettel (ALE) | Red Bull/Renault | 1min26s773 | 1min25s982 | 1min25s668 |
7º | Nico Rosberg (ALE) | Mercedes | 1min26s763 | 1min25s469 | 1min25s686 |
8º | Pastor Maldonado (VEN) | Williams/Renault | 1min26s803 | 1min26s206 | 1min25s908 |
9º | Nico Hülkenberg (ALE) | Force India/Mercedes-Benz | 1min27s464 | 1min26s314 | 1min26s451 |
10º | Daniel Ricciardo (AUS) | Toro Rosso/Ferrari | 1min27s024 | 1min26s319 | sem tempo |
11º | Jean-Éric Vergne (FRA) | Toro Rosso/Ferrari | 1min26s493 | 1min26s429 | |
12º | Fernando Alonso (ESP) | Ferrari | 1min26s688 | 1min26s494 | |
13º | Kamui Kobayashi (JAP) | Sauber/Ferrari | 1min26s182 | 1min26s590 | |
14º | Bruno Senna (BRA) | Williams/Renault | 1min27s004 | 1min26s663 | |
15º | Paul di Resta (GBR) | Force India/Mercedes-Benz | 1min27s469 | 1min27s086 | |
16º | Felipe Massa (BRA) | Ferrari | 1min27s633 | 1min27s497 | |
17º | Sérgio Pérez (MEX) | Sauber/Ferrari | 1min26s596 | sem tempo | |
18º | Kimi Räikkönen (FIN) | Lotus/Renault | 1min27s758 | ||
19º | Heikki Kovalainen (FIN) | Caterham/Renault | 1min28s679 | ||
20º | Vitaly Petrov (RUS) | Caterham/Renault | 1min29s018 | ||
21º | Timo Glock (ALE) | Marussia/Cosworth | 1min30s923 | ||
22º | Charles Pic (FRA) | Marussia/Cosworth | 1min31s670 | ||
Pedro de la Rosa (ESP) | HRT/Cosworth | 1min33s495 | |||
Narain Karthikeyan (IND) | HRT/Cosworth | 1min33s643 | |||
107% (tempo de corte) | 1min32s214 |
Depois de um 2011 cheio de problemas, essa é a grande chance para Lewis Hamilton se redimir, mas para isso terá de ser tão inteligente quanto seu companheiro de equipe, mestre na arte de lidar com os pneus que, aliás, serão novamente a grande chave para o sucesso ou não na corrida.
Por mais incrível que possa parecer, a Red Bull corre por fora, e terá sorte se conseguir salvar, ao menos um pódio na briga com as Mercedes.
Com a reformulação dos compostos pela Pirelli, as equipes necessitarão reaprender a utilizá-los, já que a diferença de um tipo de pneu para o outro, que no ano passado era de cerca de um segundo e meio, agora fica na casa dos seis décimos.
Como visto no ano passado, a distinção de desempenho de um carro para o outro em situação de prova pode não ser aquela mesma vista em treino, restando saber quem realmente está melhor preparado para o que realmente conta pontos, a corrida.
Para a Ferrari, resta apenas juntar os cacos e tentar somar o maior número de pontos possível. O pior, no entanto, é saber que o time irá para a próxima etapa, na Malásia, já na semana que vem, com o mesmo carro e suas deficiências, para desespero de Fernando Alonso e Luca di Montezemolo.
Otima analise!
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